Sou autônomo. Contas, a rigor, não presto pra ninguém. A não ser quando decido comprar uma caneta e pago imposto. A não ser quando decido tirar o dia, pra flanar ou ir ao médico, e os prazos apertam e o plano de saúde computa minha consulta. A não ser quando a luz vence, e o apagão solitário fica iminente. A não ser quando resolvo trabalhar domingo (pra correr atrás do prazo) e a família se ressente da minha ausência. A não ser quando me excedo no cartão de crédito e um telemarketing de banco me seleciona como grande cliente potencial. A não ser quando dou presentes claramente vagabundos pra gente que eu amo. A não ser quando deixo meus amigos mais cedo, antes que a conta do bar atinja a estratosfera.
Eu gosto de ser autônomo, indico pra todo mundo que queira um pouco de folga nos horários, nas vestimentas. Alguém que queira, por exemplo, ler Bacon e não Jack Welsh, quando, de caso pensado, queira isso e não aquilo. Quando creia que é o melhor para si, para as pessoas de quem gosta, para as pessoas das quais se é tributário. Para as pessoas que, se for o caso, o fundaram e o mantêm.