A desigualdade ortográfica

Vem me inspirar a entrada do blog Liberal Libertario Libertino, Um Tipo Especial de Pequenez.
A Língua Portuguesa, assim como todas, tem seus rigores. A uniformidade do nosso português na grande extensão territorial é o fato principal que nos fez um só Brasil, guardado tudo o mais que faz desse país uma tenda-de-caboclo de confusão. Mas são 8 milhões de quilômetros quadrados de comunicação possível para mim, que mal compreendo uma frase ouvida na tevê de Portugal, e para você.
Uma língua é um organismo vivo, mutante no tempo e na geografia e isso é o divertido da questão. Feita nas ruas e espelhada nas academias, não há mais espaço para vós entre nós, por exemplo. E, se tu é santista como eu, tu sabe do que mais eu estou falando.
De qualquer maneira eu acredito na preservação de toda cor possível na língua que temos para usar. Mais vocabulário é mais possibilidade de matizar; constância nas grafias é mais chance de conter mensagens precisas.
Concordo com a denúncia da presunção, do pouco ou nenhum serviço prestado a qualquer causa que seja o ato de corrigir ruidosamente um erro de gramática, largando de lado o conteúdo. Sendo o assunto esse desrespeito, estou contigo.
Sendo o assunto a língua, não posso deixar de dizer, o “seje” me irrita, o gerundismo me irrita, a preferência pelo estrangeirismo fácil, que, tal e qual o fervor com que se aponta os erros dos outros, também está carregado de esnobismo, na ilusão de que a palavra gringa é mais transcendente que a nossa brasileira, me irrita. Podemos esquedular uma reunião para discutir os limites disso, anytime. O caso do “seje” já dou como perdido, resta apostar quanto tempo mais até que a “norma culta” o integre nas formas aceitáveis de conjugação. É, no fim, um embate democrático (que perco como perco a maioria deles) que defendo, se alguém quiser saber.
Preocupa também a facilidade com que o “não” vira “naum”, “me add aew” etc. Eu que já tive a crença de que as pessoas sempre sabiam a diferença entre a gíria de Internet e a língua de outros meios destruída ao ver uma redação de escola que, além de estar recheada de “aki” e “eh mwto 10”, não trazia qualquer mensagem inteligível.
Enfim, não acho que deve haver descaso com o que acontece à língua, tampouco com os conteúdos ou com o preconceito social que a questão sugere: nós doutos e os outros, os que falam muito errado, tudo cortina de fumaça para nossa agorafobia.

One response to “A desigualdade ortográfica”

  1. Como disse o Millôr, "quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas que proibir o povo de falar errado".