23 anos mais tarde, a profecia de Orwell se cumpre

Já ouvi variantes de um diálogo mais ou menos assim:

– Você já leu “1984”, do George Orwell?

– Já… Ainda bem que acabou o comunismo!

Em seu livro mais famoso e influente, crítica ao totalitarismo e à máquina de comunicação e controle instalada por este tipo de Estado, Orwell lançou o “Big Brother” (cujo programa homônimo é somente uma piada de mau gosto) ou “Grande Irmão”. Em todo lugar pra onde o cidadão olhasse, veria a mensagem “O Grande Irmão te observa”. Com o melhor interesse do povo em mente, um sistema de câmeras/transmissoras estava em todos os lugares, emitindo mensagens e captando os passos de todos.

Anti-stalinista óbvio, Orwell sempre foi citado como exemplo de crítica ao comunismo e muitos tratam “1984” como uma biografia não-autorizada do comunismo soviético.

Mais verdade me parece que Orwell tenha tido vistas a todo e qualquer totalitarismo estatal, ele que auto denominou-se um socialista democrata.

O website “This is London”, traz em 3 de abril de 2007 matéria sobre a existência de 32 câmeras de vigilância pública em um raio de 180m da casa onde viveu George Orwell, isso sem contar as câmeras de estabelecimentos particulares, que podem chegar às centenas.

Mapa das câmeras na área da casa de George Orwell

Alguns já consideram um risco tal quantidade de câmeras. Estima-se que um londrino que saia nas ruas é registrado 300 vezes por dia. É muita informação sobre um indivíduo e devido aos padrões comuns a muitos destes sistemas de vigilância, tais dados podem ser facilmente acessados, se não por órgãos do governo, por qualquer pessoa ou organização com meios e uma agenda qualquer de intenções obscuras.

Deixando de lado o valioso debate que opõe o direito à privacidade com a necessidade de segurança, é de espantar a quantidade de pessoas que, sem ser por descaso pelo primeiro motivo ou apreço pelo outro, não se importa em ser filmada constantemente. E pensa que quem se incomoda em ser escrutinado deve ter alguma culpa no cartório.

O grande argumento tácito que “1984” carrega é a adesão, ou pelo menos a postura acrítica que todos tinham com a vida cotidiana retratada, salvo o protagonista que vai desenvolvendo um sentido de revolta muito rústico (que é então o mais elaborado possível). Será que hoje em dia vale um “Trabalhadores do mundo, desuni-vos”?