Rayuela – O jogo da amarelinha

“Quem não lê Cortázar está perdido. Não lê-lo é uma séria doença invisível que com o tempo pode ter conseqüências terríveis. Algo como alguém que nunca provou pêssegos. Aos poucos a pessoa se torna mais triste… e, provavelmente, aos pouquinhos, perde o cabelo” – Pablo Neruda

Fato interessante: a pedra do conhecido jogo da amarelinha, título desta novela do argentino Júlio Cortázar (1914-1984), em sua versão argentina é lançada com os pés. “Rayuela” constitui uma narrativa incomum, em que o objetivo não é o desfecho de uma trama (talvez porque a trama, o emaranhado entre fatos e introversões ocorridos seja o verdadeiro protagonista – se houvesse uma trama desvendada, o livro morreria). Mesmo assim, não acho recomendável citar qualquer fato ocorrido com o personagem Oliveira. Nem dizer os locais por onde ele passa. Buscar comentários e resenhas pode ser um grande desmancha-prazeres.

Rayuela - Hopsnotch

Deste livro publicado pela primeira vez em 1963, todavia, há o que se dizer. Logo de início, o leitor se depara com um “quadro de direção”. Nas palavras do autor:
“À sua maneira este livro é muitos livros, mas, sobretudo dois livros.
O primeiro se deixa ler da forma usual e termina no capítulo 56, ao pé do qual há três vistosas estrelinhas que equivalem à palavra Fim. Assim, o leitor prescindirá sem remorsos do que se segue.
O segundo se deixa ler começando pelo capítulo 73 e seguindo a ordem indicada ao pé de cada capítulo. “
Segue a lista da ordem de capítulos proposta: 73 – 1 – 2 – 116 – 3 – 84 – 4 – 71… Esta é uma das múltiplas inserções da imagem do jogo, do emaranhado, na obra. Os capítulos “prescindíveis”, entremeados na narrativa mais ou menos linear constituem complementos à história (para a ordem e para o caos), adições psicológicas de personagens, elucubrações filosóficas, citações e mesmo a proposta de um “fim” totalmente diferente. Por vezes clarificando a narrativa, por vezes ajudando (ou simplesmente modificando) um mise-en-scène na mente do leitor. Em um primeiro momento comecei a ler o livro em sua forma tradicional, mas, à medida que um dos capítulos me impressionava de alguma forma, comecei a entremear aqui e ali os capítulos “de outros lados”. Assim é que cada leitura torna-se única e Rayuela torna-se um livro que transfere ao leitor um novo poder, uma hipertextualidade.
Protagonismo do protagonista, protagonismo do leitor, da trama, do subtexto, do papel impresso, da ordem, do simulacro da ordem e do caos, tudo espelha tudo em uma armadilha, um quebra-cabeças, um jogo virtualmente infinito, caminho de mão dupla entre céu e inferno.
Sucumbindo à tentação de citar algo do livro e evitando tirar do leitor qualquer surpresa, digo algumas palavras soltas: kibutz do desejo, toco a sua boca, pontas de cigarro da varanda, tablado, rocamadour.

3 responses to “Rayuela – O jogo da amarelinha”

  1. Na escola, nós fizemos um projeto de resgatar as brincadeiras que as crianças estão deixando de lado…É o maximo, todas as crianças agora brincam…

  2. A amarelinha todas as crianças brincam mas dizem que ela esta fora de moda!

    – Porque????

    por exemplo eu adorava brincar de amarelinha mas meus subrinhos subrinhas naum gostam dizem

    que "brincar de amarelinha é coisa do passado"……